sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aventuras em busca de revitalização

Uma partilha sobre o 3º Congresso Latino Americano de Jovens

clip_image002De 5 a 12 de Setembro aconteceu o 3º Congresso Latino Americano de Jovens em Los Teques na Venezuela, considerado um marco importante no Projeto de Revitalização da Pastoral Juvenil Latino Americana.

Meses antes, lideranças juvenis da PJ de Mato Grosso do Sul reunidos em Campo Grande, decidiram por manter um representante do Regional na vaga que nos foi oferecida para o Congresso. Desde então eu fui encarregado não só de participar do 3ºCLAJ, como também, de desenvolver atividades do Projeto de Revitalização da PJ Latino Americana. Daí pra frente o sentimento de angústia reinava em minha vida. Passagens, dinheiro, vacinas, passaporte, recolher partilhas de vida, visitar grupos de jovens e motivá-los a confeccionar retalhos com os sonhos deles para a PJ na América Latina, leituras orante da Bíblia, lições básicas de espanhol, textos, textos e mais textos de estudo sobre os temas que seriam debatidos no Congresso. Com o tempo minha angústia foi se unindo aos sentimentos de outros/as jovens da delegação brasileira, era o passaporte de um que não saia, o outro que não tinha cartão de vacina, o material que a gente não estava conseguindo estudar por completo. Enfim, no meio do caminho não havia uma pedra, havia uma montanha que aprendemos a contorná-la “na marra”.

clip_image004No dia tão esperado da partida, me encontrei com Dom Eduardo no aeroporto. Descontraímos, rimos bastante, e aprendi muitos “macetes” de viagens de avião que um novato nunca saberia. Na primeira escala em São Paulo, nos encontramos com outros congressistas. Dom Eduardo com Dom Carlos Altiere, e eu com os jovens paraguaios e uruguaios. Apesar de Mato Grosso do Sul fazer fronteira com o Paraguai, sempre acontece aquele choque inicial quando você diz “Oi” e escuta um “Hola”! Meu portunhol estudado com poucas lições na internet não estava conseguindo dialogar muito com a verdadeira prática de se conversar com alguém que fala a língua nativa. Não bastasse isso, os paraguaios ainda queriam que arriscasse falar em guarani, pois como eu tomo tereré, teria que no mínimo conhecer alguma palavra em guarani. Mandei um “cunhataiporã” e fiz sucesso com a delegação paraguaia!clip_image006

Chegamos a Caracas recepcionados/as por alguns/mas jovens venezuelanos/as que nos acolheram muito bem e nos colocaram juntamente com nossas “maletas” em uma “buzeta” para seguirmos viajem a Los Teques. Já no Liceu Salesiano, onde aconteceria o 3ºCLAJ, os contrastes culturais continuavam. Conseguimos finalmente tomar um banho (de caneca) e depois fomos apresentados à culinária local, já percebemos ser bem diferente de nossa comida brasileira e aquele ainda era o primeiro dia! Detalhe: não sabemos se por cultura local ou por atraso na programação que desde o primeiro dia o almoço sempre acontecia quase às duas da tarde (isso quando almoçávamos cedo)!

clip_image008Bem, enfim conseguimos encontrar as primeiras pessoas que falavam português. Daí pra frente começou a festa. Músicas e danças brasileiras e o encanto no rosto de cada congressista brasileiro que estava vivenciando aquele momento histórico para a nossa PJ. Caminhada até a Catedral, missa de abertura, noite cultural e os primeiros contatos já acontecendo naturalmente. Às vezes nós brasileiros nos flagramos conversando em espanhol sem querer com outros brasileiros!!!

E o 3ºCLAJ foi acontecendo com uma grande intensidade de emoções. Eram momentos de muita riqueza que às vezes nos deparávamos com um turbilhão de sentimentos que não sabíamos distinguir o que estávamos sentindo. Eram muitas pessoas e culturas diferentes vivendo em comunidade por uma semana. Jovens, adultos, padres, bispos, religiosos/as. Todos/as convivemos por dias conversando, comendo, dividindo e partilhando tudo o que estávamos dispostos. Era uma grande diversidade de jovens, vidas, belezas, rostos, experiências, trabalhos, sabores, cheiros, culturas, músicas, sonhos, cores e bandeiras que, todas juntas formavam a grande pátria mãe que é a nossa América Latina.

Nós brasileiros trabalhamos muito, mas muito mesmo. Acordávamos às cinco da manhã para ir ao Liceu Salesiano e chegávamos ao alojamento à meia noite, às vezes ainda com encaminhamentos pendentes precisando nos reunir ali para resolver. Nós das Pastorais da Juventude do Brasil acreditávamos ter muito a contribuir com o Projeto de Revitalização da PJ Latino Americana. Debatemos muito para dar visibilidade ao nosso jeito de ser Igreja. Sofremos bastante tentando expor as nossas opiniões em espanhol para que todos nos entendessem e às vezes não sentíamos reciprocidade para que nós brasileiros entendêssemos as idéias de outras pessoas. Devido à grande diversidade era sempre muito difícil estabelecer um consenso entre todos. Às vezes, nós brasileiros por sermos os únicos a falar português, nos sentíamos não estar conseguindo entrar em comunhão com todos os outros países, mas nos esforçamos. Cansamos muito, não apenas fisicamente, mas principalmente mentalmente tentando encontrar essa sintonia.

No dia 7 de setembro fizemos uma pequena manifestação do Grito dos Excluídos para estar em sintonia com os irmãos/ãs que ficaram no Brasil lutando pela causa dos/as pobres. Com muito trabalho, ao longo dos outros dias, conseguimos aprovar um pronunciamento elaborado pela delegação brasileira sobre a violência e o extermínio de jovens na América Latina. Demos contribuições importantes para a construção do Sonho da PJ Latino Americana e motivamos para que haja um gesto concreto e que seja feita uma atividade contra a violência e o extermínio de jovens nos países latino americanos. Por fim reafirmamos a importância do protagonismo juvenil e a opção preferencial pelos pobres.

Os últimos dias de congresso estavam chegando e a tristeza já tomava mais conta de nossos corações do que os outros sentimentos. Como pode tanta gente boa morar tão longe?!?!!! Estava chegando o momento de deixar para trás os/as jovens que conhecemos, os/as amigos/as que fizemos, os/as pessoas que nos enamoramos. Era hora de ir embora e não sabíamos como agradecer a todos/as que muito bem nos acolheram em terras venezuelanas. Os/as chamados/as Sentinelas, jovens que estavam trabalhando de monitores das delegações, cuidaram muito bem da gente e não poderíamos botar os pés no Brasil sem agradecê-los/as por sua dedicação que nos proporcionou tanta riqueza que com certeza nunca esqueceremos. E como diria minha amiga Arleth: “Protocolo para nós brasileiros é algo que só existe no dicionário”, fizemos uma “invasão” no final da missa de encerramento, vestidos com os uniformes dos/as Sentinelas, para homenageá-los/as e entregar os nossos “regalos” (presentes) brasileiros. Foi emocionante e hilário. Depois de nos dirigimos ao alojamento, fomos surpreendidos por um de nossos Sentinelas, que com a camiseta da seleção brasileira nos mostrou uma bonita homenagem de agradecimento em português, citando o nome cada um/a de nossa delegação.

No outro dia, alguns brasileiros já estavam indo embora, outros tinham ainda mais um dia na Venezuela. Ficamos hospedados no Instituto de Pastoral Juvenil SPES, resolvemos aproveitar e passar o dia na praia. Duas dezenas de brasileiros andando juntos pelas ruas da Venezuela, com certeza vai ter história pra contar! E não deu outra! Pegamos o metrô e alguns estavam conosco, mas se dirigindo à rodoviária. No final das contas as pessoas que iam pra rodoviária se foram, e nós ficamos com uma “pequena” mala de recordação. Sem celular, sem sinal de fumaça, sem nada, como vamos nos comunicar para entregar a mala? Duas pessoas foram atrás enquanto aguardamos dentro do metrô, fomos abordados por policiais, as pessoas voltaram com a mala nas mãos e todas as suas alças arrebentadas! Levamos a mala para conhecer a praia!

clip_image010Um mês depois do 3ºCLAJ, ainda estou dando “Buenos dias” e “gracias”, me recordo de todos esses momentos como se fosse hoje. Agradeço a Deus e a todas as pessoas que me ajudaram a representar o Brasil e o Mato Grosso do Sul. Acredito que a participação de um jovem do Regional Oeste 1 no 3ºCLAJ é um grande avanço para um regional que a pouco tempo estava desarticulado. O caminho do Projeto de Revitalização da PJ Latino Americana ainda não acabou. E agora com as conclusões do 3ºCLAJ teremos muito mais elementos para trabalhar em nossos grupos de jovens.

Acredito em uma religião libertadora. Acredito do projeto de formação da PJ. Acredito em uma juventude que possa dar vida aos nossos povos. E por isso estou nessa luta com coragem e ternura. É por essa causa que enfrento cada desafio que a vida me impõe.

Continuemos caminhando com Jesus e lutando pela vida da juventude!

||Walkes Vargas||

Um comentário:

Daniel Ventura disse...

Buenos dias!

Que legal a sua experiência na Venezuela hermano. Espero que Deus ilumine sempre seu caminho. Um abraço.

Hasta luego...

Nos vemos em Madri...

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