Ao longo dos anos o Movimento Estudantil foi capaz de produzir quadros políticos de extrema competência tanto para a direita como para a esquerda (José Serra e Vladimir Palmeira por exemplo). Se fizermos uma análise histórica do movimento estudantil organizado, percebemos que ele foi gerado por interesses políticos, mesmo em 1937, durante o período de ditadura de Getúlio Vargas. Sabemos que nessa época, o nacionalismo exacerbado e falta de democracia eram marcas registradas, e o partido, PTB, se infiltrava em todas as organizações. Foi nessa época também, que foi regularizada a situação dos sindicatos. No movimento estudantil não foi diferente.
Quando a UNE foi fundada, e ao movimento estudantil foi dado um caráter de organização a nível nacional, não só a entidade, mas os próprios militantes do ME possuíam participação ativa em partidos políticos.
Neste período, os estudantes militantes do Partido Comunista (pois a qualquer pessoa é dado o direito de militar em um partido político e ser militante orgânico do Movimento Estudantil), entenderam a importância de trazer para as fileiras das lutas populares, um movimento novo, baseado na rebeldia da juventude e na irreverência estudantil.
Dentro deste contexto, se travou uma importante luta em 1950, a direita instituída, defensora dos privilégios da classe dominante, contra uma esquerda contestadora e embalada por grandes vitórias dos trabalhadores (como a Revolução Chinesa de 1949). Nesta disputa, a direita venceu e tomou a direção do movimento estudantil e de sua entidade, a UNE. O Movimento Estudantil acabava de cair nas mãos da UDN (União Democrática Nacional), partido conservador que viria mais tarde a dar origem a ARENA, o partido da Ditadura.
Mais uma vez, estudantes militantes do Partido Comunista (PC), da Juventude Universitária Católica (JUC), e da Juventude Estudantil Comunista (JEC), se mobilizaram para acabar com seis anos de conservadorismo e em 1956 à a vitória da esquerda progressista na UNE, e o retorno do movimento estudantil as lutas. Deste momento em diante, a Direita nunca mais teve espaço no centro político do movimento estudantil ou em suas entidades, a não ser em locais focalizados. A primeira campanha chamada pela nova direção foi a “União Operária e Estudantil contra a Carestia” que era a luta pela redução das tarifas de transporte. Como podemos ver, a participação de militantes ligados a partidos políticos, sempre foi uma resposta natural as demandas do próprio movimento estudantil.
De 1956 até hoje, o Movimento Estudantil passou por muitas lutas, muitos desgastes. Foi o movimento estudantil, que entrou de cabeça na luta pela Reforma Universitária (em 1960 na Bahia), com bandeiras como Democratização do Ensino, Universidade Voltada Para a Sociedade. Foi este movimento que teve na Ditadura muitos de seus líderes mortos, presos e torturados, por defenderem a liberdade, a democracia e seus partidos políticos.
A luta do Movimento Estudantil vai além de um debate sobre o que é melhor para o nosso curso ou nossa formação profissional. Ele é responsável por nos tornar seres politicamente ativos, e quando nos tornamos politicamente ativos fazemos nossa opção. Esta opção pode ser Conservadora ou Progressista, pode ser de Esquerda ou de Direita, e é neste momento que nos encaixamos neste ou naquele programa partidário.
Desde que perdeu o controle do Movimento Estudantil, a Direita não consegue se organizar para fazer a disputa. Tentou acabar com congressos, dividir o movimento, criar entidades paralelas. Mas nem um de seus discursos foi tão bem assimilado como a ideia do APARTIDARISMO. Inclusive entre companheiros esta ideia tem tido sentimentos de simpatia.
Devemos esclarecer que este debate é extremamente sério e difícil. Se nos fizermos uma pergunta simples e objetiva, qual seria nossa resposta. O Apartidarismo no movimento estudantil beneficia a quem? Será que isto não merece uma reflexão? Será que isto não é a apelação dos despolitizados, dos ingênuos ou dos oportunistas?
Sabemos que a falta de formação política de nossa militância, a falta de debates, de uma construção ideológica firme baseada em fundamentação teórica, causa certos desvios e dúvidas. Desvios porque achamos que nossas entidades devem ser preservadas da presença “danosa dos partidos” e dúvidas porque colocamos em cheque nossa própria participação quantos militantes de partidos. Se nos perguntarmos, quantos de nós militam organicamente em algum partido político, teremos uma surpresa, pois muito de nossos militantes formulam conceitos sobre os partidos, suas formas de atuação, sua política, sua atuação nos movimentos sociais sem nunca se quer ter participado de atividades partidárias. O que não lhe dá o conhecimento de causa e consequentemente limita seu poder de debate.
O termo APARTIDARISMO pode nos jogar em caminhos irreversíveis: O primeiro é reproduzir o discurso oportunista da DIREITA, que sem condições de disputar o Movimento Estudantil com um discurso real e uma prática coerente, lança-se à desmoralização dos militantes desse movimento, julgando ser eles e seus partidos o grande mal pela desarticulação e imobilismo pelo qual vem passando nossas entidades e o próprio movimento. O oportunismo de DIREITA vale-se da falta de formação, conhecimento e firmeza ideológica de militantes novos ou descontentes para jogar, e assim tumultuar, confundir e fragmentar a base real do Movimento Estudantil.
O outro caminho é o do oportunismo de ESQUERDA. Este infelizmente existe e pode ser encontrado em vários espaços de discussões do Movimento Estudantil. A covardia de companheiros em assumir seu papel contestador e suas ligações partidárias os coloca na condição de negação da participação dos militantes organicamente ligados a partidos dentro do movimento. Os oportunistas de Esquerda possuem atuação partidária, mas por incapacidade teórica e organizativa se tornam militantes periféricos no partido. Estas pessoas veem no movimento estudantil o espaço de se tornarem o centro político, e o seu primeiro passo é negar a existência e importância da Militância Estudantil – Partidária, pois será justamente esta militância que se não for anulada os colocará de novo na periferia do debate.
Outro caminho é tão quanto medíocre. Nos joga no esquerdismo AUTONOMISTA (anarquista), que por aversão a qualquer tipo de organização, joga seu rancor esquerdista contra os militantes estudantis partidários, debitando a estes todos os problemas de ordem estrutural e organizativa, não se dando conta que organização, proposição, elaboração são preceitos básicos para a democracia. Preferem lançar o Movimento Estudantil na rota do aventureirismo irresponsável e colhem mais tarde os frutos de sua própria desorganização, não deixando acumulo nenhum para que sirva de suporte para as próximas gerações de militantes.
E por fim temos os ingênuos. Estes têm a características de não conhecer a fundo o movimento estudantil, os partidos, as disputas, as pautas, e acabam reproduzindo o discurso que houvem. São os mais influenciados neste processo. Possuem boa vontade e disposição para militar, mas as faltas de experiência e de conteúdo teórico os colocam em uma condição difícil. Muitas vezes criam o preconceito e passam todo seu período de militância sem consegui evoluir, e se tornam os maiores críticos da participação da militância partidária no movimento estudantil. Outros, pelo contrário, conseguem enxergar a importância de uma militância mais qualificada e acabam, além de militar no Movimento Estudantil, ter uma militância destacada também no partido político.
Há outro debate importante que devemos considerar quando se fala em Movimento Estudantil e Partidos Políticos, que é a questão do aparelhamento das entidades. Isso causa uma tremenda confusão nos militantes novos e até mesmo aos mais antigos. Existem companheiros que por mais que participem não conseguem evoluir e entender a diferença entre a participação de militantes ligados aos partidos políticos, seus debates internos e a concepção aparelhista de movimento. Diga-se de passagem, a direita toda vez que esteve à frente de entidades aparelhou, usou, tirou proveito para sua própria construção.
Uma das características das entidades quando aparelhadas são a falta de espaços democráticos de decisão. Plenárias, congressos, assembleias, reuniões gerais são abolidas em detrimento de conchavos, acordos, reuniões a portas fechadas. Isso sempre sem a participação dos estudantes e sem o devido repasse para o coletivo. O poder de informação fica concentrado/centralizado nas mãos de poucas pessoas que se recusam de forma veemente em repassá-las.
Outra demonstração clara de aparelhamento é quando as finanças da entidade são tratadas como um grande mistério. Ninguém sabe e ninguém vê os recursos, e as prestações de contas que deveriam ser constantes tornam-se umas incógnitas, que nem com pressão são mostradas as claras.
E a esquerda, será que não faz a mesma coisa?
É aí que se mostra a diferença, pois mesmo nos partidos de esquerda temos diferentes interpretações para este debate. A UJS (União da Juventude Socialista/PCdoB), particularmente, possui uma política de manutenção das entidades a qualquer custo, pois dela depende a existência do próprio partido. Para que ocorra esta manutenção, palavras como ética e coerência desaparecerem do dicionário e outras palavras como acordos e conchavos fazem parte da prática política dos companheiros e das entidades que eles dirigem.
É por isso que temos que acabar com certos preconceitos e esclarecer certos mitos. Temos que ter claro cada conceito referente a política estudantil – partidária, para podermos aplicá-los de forma coerente, séria e organizada, fortalecendo assim o próprio Movimento Estudantil.
A principal função da participação dos partidos políticos e seus militantes no Movimento Estudantil são a capacidade de propor, de formular, de elaborar de forma a qualificar sempre mais os debates. Historicamente, podemos notar a participação dos partidos nos mais diferentes movimentos. Temos que entender isso como um passo importante no amadurecimento do movimento, de seus militantes e suas entidades. Não se concebe movimento estudantil desconectado da realidade política, e falar em política sem falar dos partidos é o principal marco da incompreensão. Lembremos do poema de Bertold Brech, O Analfabeto Político, ele nos remeterá a realidade de vários companheiros.
14 de março de 2011.
Marcelo M Trevisan
Acadêmico do Curso de Agronomia da UFSM
Ex Diretor da UNE e Ex Coordenação Nacional da FEAB
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