A
Igreja no Brasil realiza, todos os anos no período da quaresma, a Campanha da
Fraternidade, que a cada ano, debate um tema específico da sociedade. Em 2013 o
tema da CF será Fraternidade e Juventude. Com isso a Igreja no Brasil demonstra
sua preocupação com essa parcela da população. Mas quem é essa tal juventude
que tanto falamos por aí? Sabemos que estamos falando de pessoas com idade de 15 a 29 anos, que estão em uma
fase da vida cheia de mudanças, sempre conectados no mundo virtual,
insatisfeitos (ou não) com tudo e todos... Passa tanta coisa na cabeça quando
pensamos em juventude, que fica difícil definir de fato o que é juventude.
Acabamos estigmatizando ou generalizando a juventude como modelo ou como
problema da sociedade. A juventude é tão complexa e plural que não dá pra
definir todos/as os/as jovens de uma só forma.
Mas
e a juventude que vive no Mato Grosso do Sul? Como vamos compreender essa
realidade destacada de todo o Brasil? Como em todo o país, o/a jovem que vive
em nosso estado convive diariamente com a mudança de época, com a cultura
midiática, enfrenta a exclusão social, dificuldades de ingressar no mercado de
trabalho entre outras coisas. Porém o convívio diário com a violência, talvez
seja a mais grave das situações vividas em nosso estado. Mato Grosso do Sul tem
mais de 2 milhões de habitantes, só na capital 217 mil são jovens de 14 a 29 anos (Censo IBGE
2011). No mapa da violência mundial, o Brasil ocupa a terceira posição em
questões de assassinatos de jovens, perdendo apenas para a Colômbia e a
Venezuela, mostrando assim que os países latino-americanos são os grandes focos
da violência mundial, chegando a ser 16 vezes maior que os países da Europa.
No
Mato Grosso do Sul, 68,9% dos jovens do sexo masculino entre 15 e 24 anos
morrem de forma violenta, entre as mulheres, o número é de 33,1%, segundo dados
do IBGE. Nos estudos do Mapa da Violência 2011, Mato Grosso do Sul possui o
município com as maiores taxas médias de homicídios de jovens, chegando a 107,2
(em 100 mil) o número de jovens mortos em Coronel Sapucaia ,
cidade que faz divisa com o Paraguai. Esses números só tendem a crescer devido
à deficiência do poder público em oferecer políticas públicas que atendam essa
parcela da população.
A
opinião popular e os meios de comunicação acabam colocando a figura do jovem de
forma estereotipada. É comum vermos a
ligação da juventude com símbolos e expressões que o acusam de ser o causador
de uma violência, que na verdade o próprio é vítima. A forma como a violência
juvenil é apresentada pela mídia sempre enfoca a vítima, por exemplo, que morre
assassinado, e este sendo referido como uma espécie de “mau elemento”, que
deveria mesmo morrer já que está fora dos padrões da sociedade. Dessa
forma a violência acaba sendo transmitida como uma forma de espetáculo que
atrai e dá audiência para quem a fornece.
O
fato é que a juventude sempre torna-se a primeira e maior vítima de todo o tipo
de exclusão. A vulnerabilidade social faz dos/as jovens, alvos do desemprego,
gerando a marginalização e a exclusão da sociedade. Os/as jovens acabam por
refletir a essa situação com comportamentos de delinquência juvenil, apatia
política, inconformismo, revolta, uso de substâncias psicoativas, envolvimento
em tráfico de drogas e até promiscuidade sexual. Os que mais sofrem algum tipo
de violência, são os/as jovens pobres e esquecidos pelo poder público.
Não
podemos nos calar diante de uma situação de violência tão alarmante. A
violência em Mato Grosso
do Sul já tomou padrões assustadores que pouco são expostos nos debates
políticos. Já passou da hora dos/as jovens de Mato Grosso do Sul terem acesso
às Políticas Públicas para a Juventude, educação de qualidade, saúde,
assistência social, segurança pública, espaços públicos de lazer, qualificação
profissional e a expansão de atividades de esporte, cultura e lazer. A
juventude merece ser reconhecida como sujeito de direitos. Diante de toda essa
situação, surge o questionamento sobre como a Campanha da Fraternidade 2013
pode contribuir para a vida da juventude de Mato Grosso do Sul e de todo o
Brasil? A juventude quer viver, e não morrer. É nosso dever lutar por uma
sociedade justa, igualitária, fraterna, onde nenhum jovem, nem ninguém, seja
discriminado em razão de idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil,
orientação sexual, atividade profissional, religião, convicção política,
deficiência física, mental, sensorial, aparência pessoal, ou qualquer
singularidade ou condição social.
Por Walkes Vargas, Psicólogo, Coordenador da Pastoral da Juventude e Militante da Juventude da Articulação de Esquerda.
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