terça-feira, 2 de agosto de 2011

“Enraizados/as em Cristo”. Uma proposta de vivência das Jornadas Mundiais da Juventude

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“Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como foram ensinados, transbordando de gratidão. Cuidado para que ninguém escravize vocês através de filosofias enganosas e vãs, de acordo com tradições humanas, que se baseiam nos elementos do mundo” (Colossenses 2.6-8).

Esse texto de São Paulo nos leva a refletir sobre nossa opção pela pessoa de Jesus e seu Reino. Enraizar é fincar raízes, e dali se alimentar e viver. Quem está enraizado em Cristo, não pode ser diferente Dele, pois se alimenta de uma fonte que é melhor que todas as outras. O/a verdadeiro/a cristão/ã se transforma naquilo que é Jesus, suas atitudes e suas ações refletem aquelas de Jesus.

A Juventude enraizada em Cristo tem uma trajetória de caminhada. Podemos dizer que a Pastoral da Juventude enraizada em Cristo é aquela que desceu da glória do Monte Tabor para se misturar com a realidade humana da dura e cruel Jerusalém. A Juventude que se enraizou em Cristo, em 1973 a sua missão: serem jovens, cristãos, católicos, organizados como ação da Igreja evangelizando outros/as jovens, para que, capacitados/as, atuemos na própria Igreja e nos movimentos sociais visando a transformação da sociedade em todo o Brasil. Essa Juventude estava e continua enraizada em Cristo.

Uma planta enraizada noutra, não deixa de ser ela mesma, mas a qualidade dos seus frutos melhora ou piora depende do tipo de planta a que se enraizou. São Paulo nos fala de quem se diz cristão/ã e se enraíza em outras coisas ou pessoas que não Cristo, mesmo que queira não produzirá bons frutos. Ele fala em enraizar-se, não acampar. Enraizar é para sempre, acampar é passageiro, pode até ser bonito, mas à primeira dificuldade quem é acampado foge e inclusive muitas vezes deixa para trás seus pertences. O enraizamento não é para resolver uma emergência é para estabilizar uma vida, o acampamento é uma medida de emergência e por isso não é duradoura, não se envolve não se desenvolve e não produz.

O/a cristão/ã enraizado em Jesus permanece firme na fé, se torna capaz de discernir e resistir qualquer coisa que possa desviá-lo/a do Cristo anunciado pelo Evangelho. Os/as enraizados/as em Cristo não se fixam na glória de Jesus, mas na sua proposta de serviço ao Reino, que se traduz no serviço e no amor aos irmãos/ãs, principalmente àqueles/as mais necessitados/as. O termômetro para medir se um grupo de jovens é ou não enraizado em Cristo, não está na sua oração glamorosa tão somente, mas numa celebração que se enche de glamour porque celebra a vida e a presença dos/as irmãos/ãs mais excluídos.

O Espírito não sopra no vazio. Sopra lá onde há uma vida precisando de mais vida. Sopra onde há espaço de verdade para a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. As raízes da PJ não se fixam em aparências: templos ornados, liturgias impecáveis, canções de encantamento, mas sim, no serviço aos pobres, na valorização e defesa da Justiça e da Solidariedade, na luta por uma sociedade ética, no engajamento pastoral e na doação de si para o resgate da presença de Deus, ir a busca das ovelhas que se desgarraram. Quem foge do próprio redil porque as ovelhas são difíceis ou porque desejava ser “o pastor”, não é enraizado em Cristo. Quem por medo de enfrentar as intempéries da realidade da sua comunidade foge para outra, ainda não está enraizado em Cristo, mas acampado, acomodado com a vidinha nômade de ir sempre em busca de privilégios e visibilidade, por isso pode até estar cheio/a de lindas folhagens e flores, mas os seus frutos, quando os produz, não alimentam, porque apareceu como enraizado/a em Cristo, mas na verdade se acampou em Cristo, enraizando-se em si mesmo e em doutrinas ou filosofias enganosas e vãs.

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A Juventude enraizada em Cristo tem plena consciência de que “uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das injustiças, não é verdadeiramente a Igreja de nosso Divino Redentor. Por isso luta incessantemente por uma fé pura, real, verdadeira. Viver o Cristo de verdade, porque tem certeza que o cristianismo não é um conjunto de verdades que se deve crer, de leis que temos que cumprir, de proibições! Isto se torna repugnante! O cristianismo é uma pessoa, que o ama tanto, e que reclama seu amor. O cristianismo é Cristo”. E Cristo se apresenta como Libertador do povo pobre e injustiçado; é o libertador sobre esta terra, libertador no seu anúncio utópico do Reino e denúncia profética do anti-Reino; libertadora é a mensagem do Abbá, o Deus que nos acolhe e nos tira de nós mesmos; libertador é o seu amor até o fim, na cruz, e a esperança de que o verdugo não triunfará sobre a vítima; libertador é o seu modo de ser, compassivo, respeitoso, dignificante; libertador é quando ele, ao contrário dos “profetas” fanfarrões, se deixa evangelizar por uma pobre mulher viúva.

A Juventude que tem suas raízes em Cristo tem o olhar que se move na direção do primado de Deus, tem olhos bem abertos e ouvidos atentos à Palavra de Deus e aos gritos roucos que chegam das periferias. A vida de um jovem enraizado em Jesus Cristo deve ser uma transparência de Deus, mas para isso é fundamental o encontro pessoal com Ele. Quem vê o jovem enraizado, enxerga “uma pessoa que transparece Deus no mundo de hoje”. Uma Juventude místico-profética precisa formar os seus sentidos na escuta atenta da Palavra de Deus, somente ela leva a escutar os gritos dos sofredores como disse o Senhor a Moises: “Eu vi a opressão do meu povo no Egito e ouvi o grito de aflição diante dos seus opressores” (Ex 3,7). A paixão pelo Reinado não se fortalece em meros espiritualismos gerados por orações de olhos fechados e ouvidos surdos. O Reinado acontece quando os ouvidos se abrem para a Palavra e para os gritos dos pobres, e os olhos se abrem na direção daquele que necessita. Neste processo, o Reinado se expressa na experiência de Deus e na solidariedade com os empobrecidos. A profecia e a mística do Reinado assumida pela PJ, revelam a sua opção radical em seguir o Mestre em sua “opção preferencial pelos pobres, que sendo Deus se fez pobre por nós para nos enriquecer com a sua pobreza”.

A Pastoral da Juventude enraizada não se confunde com outras pastorais e migra para outras formas de viver. A verdadeira Pastoral da Juventude não envelhece e não morre, apenas se ilumina pela Palavra para iluminar.

Com João Paulo II, a PJ se abre para o abraço à Cruz, sem medo de se entregar ao Mistério do Amor maior que acontece a todo instante, por isso não abre mão daquilo que lhe baluarte:

a)    A Missão: Paulo VI dizia que a evangelização dos/as jovens deve-se dar pelos/as próprios/as jovens, pois ninguém melhor do que eles/as sabem de seus anseios, angustias, grandezas e misérias, medos e possibilidades, além de estarem juntos/as nos mesmos ambientes e serem capazes de falar a mesma língua. É preciso, portanto, que a PJ vá ao encontro dos/as jovens que não conhecem a Cristo, com um autêntico testemunho de uma vida plena de sentido, da alegria de pertencer a Cristo e de ser membro de sua Igreja.

b)   Dimensão espiritual: A espiritualidade do/a jovem deve permear toda a sua existência, todos os aspectos de sua vida. Desta maneira, não pode ser uma espiritualidade desencarnada, mas uma espiritualidade que dê sentido a sua vida e frutifique na família, na escola, no trabalho, etc. Em suma, o relacionamento com Cristo deve mudar a vida e a história do/a jovem. Qualquer coisa que se distancie disso será uma espiritualidade superficial.

c)    Dimensão cultural: Chamada a dar uma resposta e um auxílio ao jovem em sua integridade, a PJ não pode negligenciar o incentivo e a interação do/a jovem na cultura, ajudando-o/a a formar um juízo crítico em relação à sociedade e aos padrões de comportamento que nos são impostos, a aprender a admirar e amar as artes, para que, mais sensível à beleza, possa o jovem encontrá-la em si e remetê-la ao Criador.

d)   Dimensão social: “Ao aproximar-nos do pobre para acompanhá-lo e servi-lo, fazemos o que Cristo nos ensinou, quando se fez irmão nosso, pobre como nós. Por isso o serviço dos pobres é medida privilegiada, mas sem exclusivismo, de nosso seguimento de Cristo. O melhor serviço do irmão é a evangelização que o dispõe a realizar-se como filho de Deus, o liberta das injustiças e o promove integralmente. (PUEBLA, 1145).

e)    Dimensões da Formação Integral: No tocante à formação humana, os/as agentes da PJ deverão ajudar os/as jovens a se auto-conhecerem: a ter uma sadia e justa visão de sua sexualidade, de seus limites e possibilidades, bem como um tranquilo conhecimento de suas feridas e carências e os meios de saná-los. Falar-se-á também da necessidade de promover todas as áreas da vida do homem e, sobretudo, mostrar a beleza e o valor divino do que é humano, ordinário, natural. Quanto à formação doutrinal, a PJ deverá aprofundar-se com zelo e difundir a Sã Doutrina em toda a sua integridade e profundidade. Deverá estimular o amor aos ensinamentos da fé e estarem “prontos para uma resposta vitoriosa a todo aquele que vos perguntar acerca da vossa esperança” (I Pd 3,15).

Concluindo podemos dizer que a Juventude enraizada em Cristo deve viver a sua experiência de Reino não encantada com os seus feitos, mas praticar o que Ele disse ao partir: “Ide pelo mundo inteiro e fazei discípulos”.

clip_image006[4]Os/as verdadeiros/as enraizados/as amam de verdade, e se preciso for dão as suas vidas pela Causa do Reino em quem se enraizaram.

 

Irmão Silvio da Silva, PSDP

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