segunda-feira, 1 de junho de 2015

O papel dos jovens na onda reacionária

Lendo o artigo do Ricardo Kotscho, sugerido pela Eliane Faccion, podemos fazer uma reflexão sobre como o antipetismo se alastrou Brasil afora e fincou raízes.

Este problema me incomoda muito pois sou professor de Filosofia e leciono em uma escola pública de SP.

Considero que meu trabalho foi quase todo em vão em todos esses anos pelo fato de perceber que não há reflexão crítica, não há espaço para o bom senso ou um simples debate racional por parte dos jovens. Eu ouço deles apenas a reprodução daquilo que a grande mídia propaga por aí no rádio, na TV, na mídia em geral.

Em uma sala de 35 alunos quando muito dois ou três sabem e se interessam pelo debate e pelo diálogo político à partir da leitura de certos textos clássicos da filosofia.

Costumo brincar com colegas, mas muito seriamente, dizendo que nós não fazemos nenhuma diferença quando pensamos em como a cidadania e a discussão da democracia e da justiça social está travada pelo fato de haver uma majoritária onda reacionária e conservadora em nossos jovens alunos.

Isso é sério pois ver um jovem propagar ideias contrárias à democracia, à tolerância e à consciência social é um perigo! Além de ser um perigo é triste demais.

Os jovens são os seres humanos que carregam nos seus olhos as esperanças e as utopias. É difícil ver um velho com utopias, não é? Os jovens me perguntam sobre política e sobre as eleições. Claro!

E quando conversamos sobre isso muitas coisas podemos descobrir. Por exemplo, quando digo que voto em Dilma eles me respondem: “Nossa! Eu odeio a Dilma, por que vai votar nela, professor?”

Eu fico espantado pois ao perguntar: “Ora, por que você a odeia?” Eles me dizem: “Não sei. Só sei que não gosto dela.”

Muitos jovens odeiam a Dilma mas não sabem dizer porque dizem isso “naturalmente”.

Pensando nisso, refleti muito e cheguei à conclusão de que o anti petismo foi catalisado e fortalecido no Brasil, principalmente em SP, por causa do trabalho sujo da chamada grande imprensa.

Lendo o artigo de Kotscho podemos desconfiar que o jornalismo e a mídia estão realizando um trabalho pedagógico extraordinário no sentido de “educar” as pessoas para o o ódio a um campo político importante para a história recente do país. Afinal, o simbolismo da ascensão de Lula e do PT à presidência é algo que ainda não foi digerido pela elite ou classe dominante.

Um retirante da seca lá em Garanhuns chegar ao mais alto posto da República é algo que tem que ser des-construído. Tudo que ele representa e que a ele se alia deve ser destruído. Por isso, foi inventado tudo isso que se chama “mensalão”, pois a memória daquilo que representa o projeto do PT deve ser destruído. Com o mensalão tentaram destruir 30 anos que o PT construiu.

A estratégia ou ponta de lança desse projeto das elites dominantes é usar o que chamamos de “mídia”: e isso a cada segundo 24 horas por dia. O estado de SP destruiu a educação por causa disso.

Ou vocês acham que não é proposital tudo isso que aconteceu nesses últimos 25 anos? Imaginem o que seria do Brasil se SP tivesse colocado na educação a evolução tecnológica e investimentos pesados nos professores e na formação dessa geração? Com certeza o Brasil seria outro, e inevitavelmente não haveria espaço para essa elite estar no poder.

PS do Viomundo: Modéstia à parte, caro professor, o Viomundo foi o primeiro a dizer, faz meses, que o antipetismo tinha se espraiado até as bases eleitorais mais tradicionais do PT, como o interior do Nordeste. Chegamos a narrar a experiência de ouvir, nas cercanias de Sobral, Ceará, o professor Marco Antonio Villa, entrevistado pela Jovem Pan, detonar Dilma. A mídia realizou um trabalho de desconstrução desde 2003, enquanto o PT deitava em berço esplêndido com a própria Globo; mais recentemente, a presidente Dilma recomendava às pessoas usar o controle remoto. Mas, se você mudar de canal hoje em dia, vai ver a mesmíssima versão dos fatos contada por âncoras diferentes. O “senso comum”, cuja matriz é a Globo, domina.

 

 

por Robert Silva

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