Nos últimos anos a juventude ganhou destaque em diversos espaços da sociedade: governos tiveram como prioridade a juventude; muitas universidades incentivaram trabalhos e pesquisas focando o público adolescente e jovem; os meios de comunicação visaram a juventude como fonte de lucro em suas publicidades; e parte da sociedade procurou, com seus meios, criminalizar adolescentes e jovens. Foram diversos olhares: alguns positivos e outros negativos; alguns ajudaram os adolescentes e jovens a sonhar; outros contribuíram para a criminalizá-los.
O contingente de jovens hoje, no Brasil, ainda é um dos maiores da história brasileira. Literalmente, “estamos pelas praças e somos milhões, nos campos e favelas somos multidões. Perdidos procuramos um caminho”, como diz a música Esperança Jovem de Zé Vicente. No entanto, muitas vezes, estes milhões ficam invisíveis aos nossos olhos, e se tornam visíveis como sujeitos marginalizados.
No ano de 2000 vivemos a experiência do ônibus 174: a história do menino Sandro. Quem era o Sandro? Em 2011 o Brasil se chocou com a tragédia de Realengo, com o menino Wellington Menezes. Os dois citados eram adolescentes e jovens de periferia; quase ninguém os conhecia, mas ficaram mundialmente conhecidos depois de suas mortes. Às vezes só reconhecemos os adolescentes depois da morte... Pode ser que uma das poucas vezes que o Estado percebeu a existência destes dois foi quando a polícia se aproximou deles, e os garantiram como mortos. Quando crianças, pode ser que não tiveram vaga na creche; a escola era cheia e, por uma fragilidade e outra, não deram conta de seguir como alunos. E o que fez o Estado fez para garantir o seus direitos de estudar? O que fez a sociedade?
Em 1997, 3 jovens e um adolescente colocaram fogo no índio Galdino. Porque jovens de classe elevada de Brasília, pouco se falou sobre as punições dos jovens e do adolescente, mas Galdino morreu, e o seu atentado também. Em 2007 tivemos o caso do menino João Hélio, quando dois jovens e um adolescente roubaram o carro de sua mãe e ele ficou preso no cinto de segurança sendo arrastado na fuga e vindo a morrer em seguida. Todos os casos aqui citados envolveram adolescentes, mas cada um ganhou seu devido destaque, da forma que a mídia desejou. Os crimes que envolveram adolescentes negros e pobres, foram comovidos pela dor e comoção da mídia com o objetivo de julgar e criminalizar; no crime que envolveu um adolescente rico, pouco se falou nos meios de comunicação, pois estes não são marginais, mas sim homens de direito...
Nos dias atuais, quando andamos pelas cidades, sempre nos deparamos com adolescentes e jovens mal vestidos, sujos, alguns deitados pelas calçadas, deixando nossas lindas cidades encardidas e feias. Outros estão sentados nas praças ou próximos aos viadutos, usando drogas. Quando os avistamos, tapamos nossos olhos para essa realidade e eles passam despercebidos.,Já fazem parte do cenário, mas são invisíveis aos nossos olhares. Se eles estão andando, às vezes até mudamos de lado da rua, para não passar perto., Se eles estão armados, eles existem. Aquele que era invisível quando estava deitado, sujo e mal vestido, agora é superior a mim. O mesmo que eu não vi, agora precisa ser preso e colocado na cadeia, mesmo que ele tenha menos de 18 anos, pois é bandido. Quando estava sujo, deitado na calçada qual era o meu direito? Até defendemos a redução da maioridade penal, mas não os defendemos das drogas e da morte. Antes de punir com a redução da maioridade penal, precisamos oferecer direitos à vida, como educação, saúde, esporte, cultura, lazer e outros. Qual será o projeto de vida destes jovens? Será que eles sabem o que é projeto de vida? Mais ainda: será que eles tem condições de ter um projeto de vida?
Quantos “Sandros” e “Wellingtons” temos hoje? Não estou falando de assassinos, mas de adolescentes e jovens que tem seus direitos negados. Nós, muitas vezes os criminalizamos com o nosso olhar e os matamos diariamente com nossa atitude ou nossa omissão. Ao invés de a sociedade ajudar para que este adolescente possa ter condições de sonhar e acreditar que é possível ter perspectivas de vida, nós os julgamos, e os colocamos como inferiores para serem, daqui a uns dias, mais um número, tanto nas estatísticas de homicídios como na população de nossos presídios.
Enquanto negamos a existências destes milhares que vivem nas praças, procurando caminho, estamos longe de ter uma sociedade que onde a paz seja nosso objetivo, porque a paz é fruto da justiça, e não se pode sonhar em uma sociedade de paz, negando os direitos de um dos segmentos mais vulnerável de nossa humanidade. Precisamos ajudar a construir visibilidade aos jovens, sendo vistos como sujeitos de direitos. Precisamos de uma sociedade que defenda os direitos fundamentais de suas crianças, adolescentes e jovens, caminhando conosco rumo à promoção da cultura da paz.
Os adolescentes que hoje não percebemos, podem ser os pediatras de nossos filhos e netos amanhã. Quantos bons profissionais estamos perdendo diariamente e não percebemos? Afinal, em todos os nossos dias morrem cerca de 40 jovens no Brasil. Pouco se fala destes que morrem, mas fala-se muito dos que matam; quem morreu, não presta e quem matou merece morrer também. Vivemos na sociedade da morte e não podemos pedir pela paz enquanto estivermos desejando a morte para o próximo.
Não podemos deixar morrer tantos sonhos; precisamos desacomodar-nos com o que incomoda e juntos darmos as mãos e formarmos uma grande corrente em defesa da vida da juventude. O mundo que queremos está dentro de nós e vamos colocá-lo em pratica coletivamente. Somos homens e mulheres do bem, vamos fazer de nossas ruas um grande jardim e plantar a semente da paz.
Edgar Mansur
Representante da Pastoral da Juventude no Conselheiro Nacional de Juventude
Assessor Dep. Fed. Nilmário Miranda
Assistente Social
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