Acabou a JMJ. Mais do que nos atos centrais, apresentações e todos os demais eventos importantes, foi mais do que em Copacabana que saíram os grandes ensinamentos, foi nas periferias, nas caminhadas, nos encontros. E ficou um aprendizado, que já vem sendo construído há tempos: um pouco mais sobre o significado de ser Igreja.
Aprendi na Paróquia Santa Bernadete, que nos acolheu e acolheu a Tenda das Juventudes – PJ. Aprendi com a família que me acolheu que acordava cedo junto comigo, e se preocupava quando chegava tarde. Que nos mostrou o sentido real de amor, acolhendo a qualquer um, de qualquer lugar. Sendo família, de fato.
Aprendi a ser Igreja com a Tenda das Juventudes – PJ, que contou com tantos e tantas que fazem parte de nossa caminhada pelo chão da América Latina. Que, sem medo, ergueu o cartaz por “Menos flexão de joelho, mais flexão de gênero” pra lembrar que a construção do Reino de Deus, da Civilização do Amor passa necessariamente pela liberdade de gênero, das mulheres, dos homossexuais e todos que por vezes são tão excluídos (as) como os leprosos no tempo de Jesus.
Aprendi, com as palavras do Papa na favela de Manguinhos ao falar sobre relações de fraternidade que necessariamente passam pela justiça social, e que a paz não se dá pela “pacificação” com armas e repressão, mas pela reestruturação de todo esse pecado estrutural a que chamamos sistema capitalista ou “sistema que produz egoísmo” como disse Francisco.
Aprendi com a Via Sacra que o martírio de Cristo se faz hoje presente no martírio de cada irmão, e que é missão de todos nós buscarmos ser, como disse Francisco, mais como Simão Sirineu que, sem medo, enfrentando os opressores, vai até os oprimidos do que como Pilatos que covardemente aprova a morte.
Aprendi com as mulheres da Paróquia que corriam o tempo todo pra arrumar o local, e que embora, pelo machismo dos nossos lideres homens, sejam excluídas do direito de celebrar Cristo no altar, celebravam o milagre da comunhão na cozinha, realizando o milagre de sabor e partilha. Tantos e tantas, do alto dos pedestais e tronos de ouro, deveriam conversar alguns minutos com alguma delas pra entender o real significado de Amar e Servir.
Aprendi com os companheiros que peregrinaram comigo. Aprendi também com os companheiros de Pastoral da Juventude de todo lugar do Brasil que se reconhecem em meio a multidão e caminhadas, diferenciados pela camisa vermelha ou pela bandeira, celebrando o encontro como quem já se conhecia a muito tempo. Aprendi encontrando com jovens indígenas que caminhavam junto, lembrando-nos de Jesus e Tupã, e que a terra é dom de Deus e não deveria ter-lhes sido roubada.
Aprendi a ser Igreja com o Padre Gege, pároco da Santa Bernadete, que nos lembra que “Zumbi é bom meu camarada. Jesus é bom meu camarada”, que oferece as intenções da missa pela PJ para que continue sua luta pelo protagonismo juvenil. Que como verdadeiro discípulo de Jesus, descendente de Zumbi, leva o povo a se perguntar “Pai Nosso, quando é que esse mundo será nosso?”, e nos faz renovar a esperança de que em meio a tantos doutores da lei e fariseus existem muitos pastores que insistem em anunciar a Boa Nova a nossa velha Igreja.
Aprendi com a família que veio de El Salvador para nos lembrar da importância de Dom Oscar Romero, mártir da Nossa América, bispo dos pobres, subversivo como Jesus, a toda essa juventude que tantas vezes se esquece para onde e para que peregrina. E que conseguiram com a ajuda dos moradores de Varginha erguer uma grande foto no campinho de futebol da comunidade, colocando Santo Oscar Romero onde ele gostaria de estar: entre os excluídos.
Um dia eu aprendi que “se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”, nesta JMJ vi que as vozes dos profetas, dos poetas, dos pobres, das pedras ainda gritam em meio à multidão. Gritaram que a Juventude quer viver. E que o ser missionário, é hoje, ser construtor de vida, de bem-comum, não através da imposição, mas do dialogo, do ecumenismo e da comunhão com todos aqueles que querem voz, vez, lugar. Deus é conosco.
Igor Gomes – Jovens Maranatha
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