quarta-feira, 20 de julho de 2011

A JUVENTUDE E A SUPERAÇÃO DA MISÉRIA

Por Felipe da Silva Freitas

A pobreza extrema persiste como desafio a ser enfrentado no Brasil. Apesar dos avanços dos últimos anos – 28 milhões de brasileiros saídos da pobreza e 36 milhões ingressos na classe média – o país permanece com escandalosos números de pessoas vivendo com menos de setenta reais por mês (pobreza extrema) e com índices de desigualdade cruéis, revelados pelo descompasso entre os crescentes lucros de alguns (especialmente as elites financeiras) e as políticas tímidas referidas aos segmentos sociais mais pobres.

Conforme números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), largamente divulgados nos últimos meses por causa do lançamento do programa Brasil Sem Miséria apresentado pelo Governo Federal, 16 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema no Brasil sendo que 59% estão concentrados na Região Nordeste - 9,6 milhões de pessoas; 51% com idade até 19 anos e 71% são negros (pretos e pardos). Em outras palavras, a miséria no Brasil é negra e nordestina, concentrando-se entre crianças e jovens!

No entanto, apesar da evidência com que se pode diagnosticar o recorte etário, racial e regional da pobreza no país o histórico das políticas públicas dirigidas para superação da miséria revela uma série de reticências, especialmente no que tange às políticas públicas de juventude. Persiste uma abordagem com forte tendência ao universalismo e a imprecisão no planejamento, que, no conteúdo, oscila entre a transferência de renda, a capacitação profissional e a intermediação de mão de obra para serviços mal remunerados, quase sempre sem articular estas dimensões na perspectiva da emancipação – individual e coletiva – e do fomento à construção de outro modelo de desenvolvimento, em diálogo com os desejos e as contribuições dos(as) jovens.

A superação da miséria no meio juvenil não prescindirá de eficientes políticas de qualificação profissional, inclusão produtiva, ampliação dos serviços públicos e programas de transferência de renda. No entanto, só será possível se falar em conquistas reais e sustentáveis neste campo na medida em que conseguirmos, além destas iniciativas, executar ações voltadas para democratização do estado, combate as estruturais desigualdade econômicas, empoderamento político e social dos jovens na perspectiva da construção de outro modelo de sociedade e, sobretudo, ações do Estado junto aos mais pobres, em franca oposição aos preceitos do famigerado receituário neoliberal.

As experiências locais de incentivo a comunicação democrática e comunitária, o apóio a formação de grupos juvenis segundo interesses e afinidades de cada segmento, o estímulo à economia popular solidária, as ações de combate ao racismo institucional, o fortalecimento aos programas de reforma agrária e urbana, são alguns exemplos de ações que podem ter grande contribuição no combate à pobreza extrema no meio juvenil.

Mais do que agregar o jovem ao que está dado como única possibilidade de inclusão trata-se de superar a ditadura do pensamento único e dialogar, com o jovem, sobre qual o seu projeto para sua própria vida, para sua comunidade e para todo o país. Só em uma sociedade democrática é possível superar a miséria e promover desenvolvimento equitativo e solidário, mais do que justiça social, trata-se de outro mundo urgente, possível e necessário, sem dúvida, uma grande pauta para juventude brasileira.


O presente texto é uma contribuição ao debate formulado pelos artigos: “A Miséria do Brasil e o Brasil Sem Miséria”, de autoria do Prof. Jocivaldo Anjos, e, “A Utopia da Miséria”, escrito pelo Prof. Sérgio São Bernardo.

Felipe da Silva Freitas, 23, bacharel em direito e assessor da Coordenação de Políticas de Juventude da Secretária de Relações Institucionais do Governo do Estado da Bahia.

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