terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Apenas dois jovens...

AndreHá um ano atrás o Brasil perdeu dois grandes jovens. Um deles vivia na capital pernambucana, era um estudante de biomedicina que passou a vida inteira estudando em colégios públicos e mesmo assim ingressou na Faculdade Federal de Pernambuco, em primeiro lugar. Era modelo de filho, irmão, amigo, jovem. Exemplo a ser seguido. Seu nome, Alcides do Nascimento Lins, 22 anos, assassinado com tiros na madrugada de 06 de fevereiro de 2010, por não saber informar onde estavam seus vizinhos.

O outro vivia no interior do Paraná, em Guarapuava. Era um militante da Pastoral da Juventude há pouco tempo, mas de um coração imenso, do tamanho do mundo, outro exemplo a ser seguido. No dia anterior havia passado no vestibular da Unicentro, em enfermagem, que era o seu sonho. Seu nome, André Senoski Fernandes, 16 anos, foi atropelado por uma moto ao cruzar a BR 277 de bicicleta na noite do dia 06 de fevereiro de 2010, vindo a falecer na manhã seguinte.img_news_alcides

Eu não conheci nenhum desses jovens. O André conheci de vista. Conheço muito bem o Bruno, primo dele e também companheiro de PJ. Pela dor do meu amigo, sei o quanto ele era especial, pelo carinho com que todos que o conheceram falam dele, percebo o quanto faz falta. O Alcides, então... admirei aquele jovem, ele tinha todas as qualidades que eu almejava (e ainda almejo): era sensato, consciente, pés no chão, mas sonhador. E ousou ir longe... assim como o André, eram jovens que viveram a juventude com sua plenitude. Sabiam viver. Foram livres, fizeram escolhas conscientes e por isso mesmo são modelos, são exemplos para os jovens e pra todos os não - jovens.

A notícia da morte de ambos destrui meu coração. Chorei. Chorei como Jesus diante do túmulo de seu amigo Lázaro, mesmo sem conhecê-los. Chorei porque percebi o quanto é duro sonhar, o quanto é duro querer algo mais. Muitas vezes, a impressão que temos é que não vale a pena querer algo mais, que sonhos são coisas pequenas, que são inatingíveis. Eu desacreditei por muitos dias em tudo o que acreditava. Quando parece que as coisas se tornam reais vem uma força maior e destrói tudo. Alguns chamam isso de destino.

Minha amargura perdurou por dias. Pensei muito na campanha da PJ contra a violência e o extermínio de jovens. Me senti impotente. Aí, desabafei com uma amiga. Transmiti toda a minha angústia pra ela. Falei “Tô cansada de falar e não ser escutada. Tô cansada de gritar num deserto. Jesus era Deus, João Batista era santo, eu sou só uma jovem.” Ela me respondeu brava “Mari, se você parar de falar, quem vai falar? Os outros? Os outros, Mari, somos nós. Se você quiser manter a memória do André, do Alcides e de todos os jovens que morrem injustamente todos os dias você não pode se calar.”

Nossa, eu precisava dessa bronca. Aí, por uma coincidência incrível (ou seria destino) li o artigo de uma jovem que falava sobre o Alcides, no site da campanha contra a violência e o extermínio de jovens. Ela falou em Dom Hélder, e uma frase que estava num livro que escreveram sobre ele “Não deixe cair a profecia”. No fim, ela ainda lembrou outra campanha da PJ, que tem haver com a campanha contra a violência, que é “a juventude quer viver”.

Me animei novamente, e vi que a melhor forma de honrar nossos jovens que morrem de forma brutal, sem direito de defesa, que tinham a vida inteira pela frente, é seguindo seu exemplo. Por isso mesmo, quero ser como o Alcides, como o André. E enquanto eu viver não posso permitir que a memória deles se apague.

Infelizmente, essa é a nossa realidade. Milhares de Alcides e Andrés são mortos todos os dias, injustamente, sem ter a chance de viver a vida na sua plenitude. E nós não podemos aceitar passivamente, precisamos ser profetas, precisamos gritar, mesmo que aparentemente seja deserto, precisamos mostrar nossa cara. Se queremos igualdade, se queremos liberdade, se queremos VIDA, temos que encarar esse sistema triste, que nos trata com indiferença, que oprime, e permite a morte de inocentes. Pelos nossos jovens que tombaram nós não podemos desistir.

São apenas dois jovens que mudaram a vida de muitas pessoas ao redor. Inclusive a minha, mas Alcides, André, sei que vocês estão conosco e queremos a coragem, a doação e essa imensa sabedoria, esse imenso amor de vocês pela vida. Vocês sabiam viver! Que todos os jovens possam ser mais parecidos com vocês. E viva a juventude que caminha, que chora seus mártires, mas os honra com sua vivência, estando ao lado da justiça, da liberdade, do amor e principalmente da vida. BASTA! CHEGA DE VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS!

Acesse o site www.juventudeemmarcha.org e conheça melhor essa campanha da Pastoral da Juventude.

E como dizia o Padre Gisley, outro jovem que se foi cedo, injustamente, violentamente “Vamos juntos gritar, girar o mundo: chega de violência e extermínio de jovens!”

Mari Malheiros

essenciaereticencias.blogspot.com

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