A notícia da morte do jovem Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos, anunciada no dia 07 de fevereiro, me deixou profundamente desolada. Ele ficou conhecido por ter passado em primeiro lugar no curso de Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Fantástico mostrou, na época, em 2007, a felicidade de sua mãe, a vendedora ambulante Maria Luiza do Nascimento. Ele foi morto a tiros na madrugada do dia 06 de fevereiro/2010, em sua casa, no Recife, porque não sabia dizer aos criminosos onde estavam os seus vizinhos.
Na época quando vi a notícia de sua aprovação no vestibular tive a sensação de que a teimosia dos/as pobres em viver e ter dignidade era certeira. Tive a certeza na esperança de um outro mundo possível e necessário. Mesmo que Alcides estivesse na estatística da contra mão, na estatística da exceção, o esforço de cada um e cada uma com certeza dá bons resultados.
Chorei pela morte do Alcides. Chorei pela notícia de que um jovem que ajudou a gente a cantar no CD da Campanha A Juventude Quer Viver está preso por uso de crack e furto. É doloroso enxergar a esperança. Mais é mais doloroso enxergar o desejo e o movimento de parte da sociedade e estado que simplesmente extermina meninos e meninas que não são reconhecidos/as como seus pares, aqueles e aquelas que não estão no centro (da política, da economia, da bolsa de valores, do centro da cidade).
Mas é preciso “não deixar cair a profecia” diante da dor e da desolação. Foi Marcelo Barros que me contou esse princípio fundamental para todos e todas nós que acreditamos no outro mundo urgente e necessário, por meio do livro em que ele fala de sua experiência com Dom Hélder na época em que foi bispo da arquidiocese de Recife e Olinda.
Olhando para a Campanha A Juventude Quer Viver e a Campanha Nacional Contra o Extermínio e Violência de Jovens, tenho a certeza de que não podemos deixar cair a profecia. Não podem exterminar a esperança que habita em cada um e cada uma de nós. Não é possível exterminar o nosso amor pela humanidade. Nunca conseguirão exterminar a nossa voz e nossa capacidade de criar. Jamais vão conseguir exterminar a nossa ousadia e a nossa teimosia.
O sorriso bonito do jovem Alcides nas fotos de reportagem que tem falado sobre ele, na casa simples da periferia do Recife, expressa o significado do seu nome e do movimento que a juventude tem feito pela vida: Alcides significa forte, persistente, ativo e com força de vontade.
Você, Alcides, marcou muita gente no Brasil pela tua força tão simples e tão intensa fazendo que o Brasil inteiro se sentisse incomodado pela tua morte e vida Severina. Agradecemos a tua presença no meio de nós, pois você é um sinal de que nossa luta deve ser juntos e juntas, com os pés no chão, o coração inundado de coragem e com a boca no trombone dizendo aos quatro cantos do mundo “Basta de Extermínio!”. Sei que seu conterrâneo dom Helder deve ter acolhido você na casa do Pai na maior festa e ter dito “parabéns, meu rapaz, você sonhou sem medo, sem limites e sem censura”.
Como ato de fé, vamos todos e todas profetizar todos os dias: a juventude quer viver, na luta contra o extermínio e a favor da vida. Basta de extermínio!!!
Kelly Cristina Alves
Casa da Juventude Pe. Bunier
*A foto de Alcides que ilustra este texto é do programa da Rede Globo exibido em 2007.
Fonte: http://oglobo.globo.com/
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